A ENCANTADORA CORTESÃ: MEI GONGQING – CAPÍTULO 15

Capítulo 15: Perto do Rio Amarelo

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Chen Rong silenciou-se
Sun Yan visou sua cabeça em direção da garota e a observava com uma expressão solene, subitamente perguntando: “Quantos anos você tem?”
“Ainda não tenho dezoito”, ela respondeu, depois de um momento de obstupefação.
“Você é mais jovem do que eu.” Então olhou para ela e disse como se fosse óbvio: “Então me chame de irmão mais velho.”
Chen Rong o olhou, surpresa.
Sob o luar, a expressão pasma dela aparentemente agradou a Sun Yan. Ele sorriu um sorriso que lavou toda a desolação que outrora vestia em sua face.
Chen Rong deu uma olhada nele e então retrucou: “Hmph, não tenho certeza se você é mais velho do que eu!”
Sun Yan sorriu novamente. Pelo que parecia, ele deveria sorrir muito no passado. Quando ele sorria, todo o seu rosto se iluminava.
Ele deu uma checada em Chen Rong por inteira, deu um aceno e disse: “Sim, mas se você não contasse, ninguém poderia imaginar que você só tem dezessete. Tsk, você é só uma menininha, mas já se comporta como se fosse uma mulher.”
O pequeno rosto de Chen Rong se enrubesceu. Ela respirou profundamente para acalmar sua raiva, mas considerando que ela tinha um certo temperamento, ela precisaria respirar muito mais antes que ela pudesse refrear de abrir a boca para responder: “E isso ainda é melhor do que a sua voz rachada!”
Sun Yan foi quem rachou de rir.
Ele ria e ria ainda mais. Quando seus lábios finalmente relaxaram, ele inclinou um pouco sua cabeça e continuou a olhar para a água prateada que corria na frente deles, murmurando: “Seus olhos são como os dos lobos... eu gosto deles.”
Chen Rong levantou a cabeça. Ela queria refutar de alguma maneira, mas não conseguiu se expressar.
Virando sua cabeça, ela copiou o comportamento dele de observar o fluxo das ondulações, pensando quietamente consigo mesma: Eu digo a mim mesma para esquecer o passado, mas parece que não estou me esforçando o suficiente. Não é aceitável ficar assim. Quero fazer com que eu tenha uma paz verdadeira, então mesmo que eu veja aquela pessoa novamente, isso não me afetaria em nada!
Eles estavam lado a lado, ambos quietos.
Mas talvez porque estavam no mesmo barco e por perceberem que ambos tinham espíritos compatíveis, conversas eram desnecessárias para desfrutar da companhia um do outro.
Com o brilho do fogo do acampamento, o som de risada era ouvido há uma certa distância. Contrastando, as duas sombras à beira do rio parecia estar se misturando entre o céu e a terra, como se eles estivessem lá, de pé, desde tempos remotos, ainda continuariam assim por toda eternidade.
O tempo voava. Em um piscar de olhos, três dias de passaram.
Wang Hong e Yu Zhi foram cercados por jovens damas durantes esse tempo. Quando eles ocasionalmente se encontravam, tudo o que poderiam fazer eram sorrir um para o outro, tendo nenhuma oportunidade para conversarem em paz.
Sun Yan grudou no lado de Chen Rong desde aquela noite. Ele assumia a posição de motorista da casa dos Chen, comia a comida da casa dos Chen, e naturalmente formou um pequeno grupo junto com Chen Rong.
Àquela altura, a caravana estava chegando cada vez mais perto do Rio Amarelo.
Eles cruzavam com os clãs mais nobres de todos os estados de tempos em tempos. De longe, poderia-se ver estradas cobertas de poeira no ar e estrondos clamorosos.
 “Senhorita, nós logo chegaremos ao Rio Amarelo! Depois de atravessarmos o Rio Amarelo, estaremos em Luo’yang. Senhorita, nós estamos quase lá!” Depois do Rio Amarelo, estaria Luo’yang. Se nada de inesperado acontecesse, eles estariam logo se estabelecendo em Luo’yang.
A Babá Ping chegou ao lado da carruagem e gritou de alegria. Seus pequenos olhos se apertavam em duas linhas quando ela sorria. Por perto, todos também pareciam entusiasmados.
“Luo’yang?”
Chen Rong não mostrava nenhuma empolgação em sua face.
Ela levantou a cabeça e olhou para frente. No fim daquele céu azul estavam fofas nuvens claras. Bloqueada pela cordilheira, ela não pôde ver as várias casas ornamentadas daquela cidade.
Ao pensamento de que o Rio Amarelo estava há apenas sessenta quilômetros de distância, aquele grupo exuberante não quis descansar nem um pouco. Uma após a outra, as carruagens avançavam estrada a frente.
Depois de percorrerem trinta quilômetros, eles descobriram que a estrada estava abarrotada com outras caravanas. E não era só a estrada, até os campos abertos em ambos os lados estavam cheios de guardas montados.
Chen Rong observou o seu entorno. Ao seu arredor estava abarrotado de carruagens e pessoas. Mesmo que dois estivessem próximo naquela situação, eles teriam que gritar para que o outro ouvisse.
“Senhorita, há tanta gente.” A Babá Ping olhava de um lado para o outro, espantada.
Chen Rong não respondeu. Havia um olhar distante em seus olhos, seus lábios se comprimiram em uma linha apertada.
O crepúsculo logo desceu sob eles.
Eles estavam agora há apenas 15 quilômetros de distância do Rio Amarelo.
Depois que terminaram de jantar, Chen Rong, que parecia abobada até então, subitamente caminhou em frente. Sun Yan tinha acabado de abaixar seus utensílios no momento que percebeu aquele comportamento anormal. “Ah Rong, a cada dos Wang ainda estão jantando.” Ele falou em um tom ríspido, franzindo a testa ao mesmo tempo.
De acordo com a etiqueta aristocrática, refeições não eram momentos para conversas, muito menos para receber visitas.
Chen Rong pausou e se virou para ver Sun Yan. Ela o observou com um olhar vago por algum tempo antes de murmurar: “Só agora eu tive esse pensamento. Mesmo que a minha vida esteja destinada a ir para esse caminho, eu ainda tenho que tentar minha sorte.”
Suas palavras não tinham rima ou razão, então como poderia Sun Yan saber sobre o que ela estava falando? Ele piscou e deu uma olhar interrogativo para ela.
Chen Rong desviou seu olhar, caminhou, e disse novamente: “A casa dos Wang gasta uma hora todas as vezes que eles comem. Não posso esperar tudo isso!”
Sun Yan olhou carrancudo para ela por algum tempo, então esticou suas pernas se a seguiu.
Nas planícies selvagens, a casa dos Wang estenderam seus tapetes de damasco em duas filas e colocaram mesas em cima deles. Carne e vinho fragrantes preenchiam essas mesas.
Os nobres permaneciam plácidos enquanto tinham sua refeição. Da posição dela, ela pôde ver Wang Hong e Yu Zhi a esquerda de Wang Zhuo.
Quando Chen Rong apareceu, as pessoas davam uma conferida nela a todo momento. Os Wang não conseguiram se refrear de observá-la quando perceberam que ela caminhava diretamente para Wang Zhuo.
Ela fez uma cortesia para ele há uma distância.
Wang Zhuo, Wang Hong, Yu Zhi, além de todos, olharam para frente, apreciando a bela garota que estavam abaixo da luz do pôr-do-sol.
Antes de Wang Hong pudesse falar, Chen Rong disse com seu tom cristalino: “Senhor Wang, Luo’yang foi sempre tida como um campo de batalha desde os tempos antigos. No momento, as cinco tribos Hu estão invadindo as Planícies Centrais. Creio que eles não deixariam de olhar para Luo’yang.” (Nota da tradutora: 1 - As cinco tribos Hu eram Xiongnu, Jie, Xianbei, Di, e Qiang, mas é o termo usado para todas as tribos do norte da China, povos das estepes, que não sejam Han. E ainda não mencionei, o que é considerado como “povo chinês, o “povo de Jin” é a etnia Han, que ainda forma a maioria da população por lá; 2 - Planícies Centrais, ou Zhongyuan, são as partes mais baixas do Rio Amarelo e o berço da Civilização Chinesa, importantíssima na antiguidade. Fica mais ou menos o meio do leste do território chinês atual.)
Ela estava comentando sobre assuntos de Estado. Todos, até mesmo Wang Hong, olharam para a garota, surpresos.
Os letrados naquela era não gostavam de discutir sobre política.
Desde quando os eruditos foram mortos um após o outro por falarem sobre políticas, filosofia e entretenimento tornaram-se os únicos tópicos que eles atreviam a discutir. Eles não discutiam sobre política já fazia um bom tempo.
Por tal motivo, até mesmo Yu Zhi ficou carrancudo dessa vez ao ouvir Chen Rong, que era uma mulher, falar sobre “campos de batalha” e coisas afins.
Como se Chen Rong não percebesse nada, ela direcionou sua atenção unicamente para Wang Zhuo e adicionou, solene: “Na minha humilde opinião, a cidade de Luo’yang não é mais segura para se estabelecer. Se nós formos para lá, temos que nós possamos cair na armadilhas que aqueles bárbaros armaram.”
“Armadilhas?” Wang Zhuo finalmente largou seus pauzinhos e perguntou: “Você está dizendo que aqueles bárbaros já tomaram Luo’yang?” Chen Rong já mostrou duas vezes suas proezas. Ele começou a considerar os conselhos daquela garota com seriedade.
Chen Rong sacudiu a cabeça. “A cidade de Luo’yang é muito poderosa para ser atacada tão facilmente. Eu só quis dizer que tenho receio de que eles plantaram alguns dos seus soldados nas proximidades de Luo’yang e nas margens do Rio Amarelo, só esperando para que caiamos nas suas armadilhas.”
Wang Zhuo ruminou essa ideia antes de virar sua cabeça para olhar para Wang Hong. “QiLang, o que você pensa?”
Wang Hong estava considerando Chen Rong, com aqueles olhos cujo reflexo lembrava a todos que estavam perante aquele céu de outono,Ele ouvira que aquela moça a sua frente tinha feito duas profecias como se fosse uma deusa – ela era uma jovem dama inteiramente diferente das outras garotas.
Hela observava Chen Rong, quieto por um momento antes de perguntar: “Então na opinião da Ah Rong, qual das tribos Hu estará a espera?”
“Eu não sei.” Chen Rong sacudia a sua cabeça com um sorriso retorcido. “Eu vim para pedir ao senhor Wang para que me permita separar da sua caravana.”
Separar?
Todos simultaneamente olharam para Chen Rong, espantados.



Nota da tradutora: Certo, meus queridos leitores. Eu tenho certeza que ninguém faltou em várias aulas de história e geografia e sabem pelo menos o que é o Rio Amarelo, assim como sabem o que é o Rio Amazonas, o Rio Nilo, o Rio Eufrates... esses lugares importantes... Por isso não vou colocar um link para explicar o que é o Rio Amarelo.
  • Seria só uma curiosidade: a tradutora em inglês colocou em parênteses o nome em mandarim para "irmão mais velho", que é gege (que é pronunciado quase como gugu... para vocês verem como vocês NÃO aprendem a falar palavras em mandarim só lendo elas no abecedário). Só que nunca mais usou isso, e eu também não vou usar. E entenda esse irmão mais velho não como o "irmão", mas também que pode ser usado por uma pessoa íntima sua. Tipo um amigo, ou um namorado...
  • Luo’yang é uma cidade , que aliás foi a capital diversas vezes de vários reinos e dinastias chinesas. Estou usando essa grafia em vez de Luoyang por estar assim na tradução.

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