A ENCANTADORA CORTESÃ: MEI GONGQING – CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 6: PARTIDA

Os membros da propriedade dos Chen terminava o seu trabalho. Restando apenas cerca de uma dúzia de servos, eles começaram a guardar nas carruagens puxadas por cavalos o pouco de roupas e arroz que restou.
Depois de Chen Rong ter distribuído a sua riqueza, só dez carruagens seriam necessárias para transportar o resto de suas posses. Três foram usadas para armazenas o arroz e a seda, uma continha suas roupas e rolos de manuscritos de bambu ocupavam as seis demais.
No passado, Chen Rong usou só uma carruagem para levar os livros, os mesmos que serviaram de esconderijo para as folhas de ouro. As demais foram usadas para transportar outros itens. Graças a isso, ele passou a década seguinte depois de retornar ao sul sendo estigmatizada como uma mulher de costumes vulgares. Os eruditos a criticaram por ela preferir encher as carruagens com roupas ao invés de carregar livros preciosos.
Em uma era que até o ar estava saturado de ‘elegância e cortesia’, o estigma de ter uma natureza vulgar poderia arruinar o futuro de uma nobre. Nos próximos anos que se passaram, mesmo fazendo tudo o que podia e usando todos os meios que ela sabia, ela não conseguiu de nenhuma maneira restaurar a reputação que já tinha sido destruída.
O leite já foi derramado.
O portão estava bem trancado aquela noite em especial, na propriedade dos Chen. Durante o turno dos guardas noturnos, nenhum visitante inesperado apareceu durante. Obviamente, isso fazia todo sentido, uma vez que a ação de dispensar sua riqueza durante aquele dia se espalhou por toda a cidadezinha. Que ladrão cego se arriscaria em roubar aqueles que não tinham quase nada?
O amanhecer chegou como num piscar de olhos.
Bem de manhãzinha, a propriedade dos Wang enviou um servo informando aos Chens para que eles se encontrassem no portão sul da cidade.
Naquele momento, a casa dos Chen já terminara de arrumar sua bagagem. Chen Rong sentou-se dentro de uma carruagem guiada a cavalo e eles seguiram até o local de encontro.
As ruas pelas quais passaram estavam abarrotadas de carruagem. Nessa desordem, todos estavam se dirigindo ao portão sul.
Quando a carruagem de Chen Rong passava pelas ruas, as pessoas parariam para admirá-la de tempos em tempos. Burburinhos de admiração chegavam aos seus ouvidos: “Aquela é a Ah Rond da casa dos Chen.”
“Que beldade!”
“Eu ouvi dizer que ela compartilhou a riquezas da família dela com os seus servos ontem. Olha para a sua tropa, a magnânima propriedade dos Chen agora foi reduzida a uma dúzia de carruagens. Então os rumores devem ser verdade, não é mesmo?”
“É claro que é verdade. Até mesmo o divinal Wang QiLang fez uma visita a eles, pessoalmente!”
“É só nos tempos difíceis que podemos ver a verdadeira natureza das pessoas. Eu ouvi que apesar da pouca idade, Ah Rong da casa dos Chen escolheu honra em vez de fortuna nesses tempos turbulentos. Isso é de fato algo difícil de se fazer. Definitivamente foi uma decisão complicada.”
Com as fofocas que vinham e iam, Chen Rong deu um suave sorrisinho e lentamente fechou os olhos.
Eles logo chegaram ao portão sul. Lá, ela viu a processão do clã dos Wang, cujas bandeiras brandeavam sob o vento, chamativas para quem passasse. Era um espetáculo impressionante, mas tudo bem…
Enquanto a carruagem de Chen Rong se aproximava, um homem de cerca de vinte anos foi para acompanhá-la e aumentou seu tom para perguntar: “Você é a Ah Rong da casa dos Chen?”
O apelativo título de ‘Ah Rong da casa dos Chen’ já tinha se espalhado como um incêndio no dia anterior. Se essa tivesse sido qualquer outra situação no passado, ele com certeza a chamaria só de ‘senhorita Chen’.
Chen Rong levantou a cortina da carruagem e respondeu: “Sim. Essa sou eu, Chen Rong.”
O jovem trajava um manto roxo, tendo delicados traços faciais. Ele deu uma risadinha e comentou: “Eu vejo que é verdade o rumor de que você é um tanto quanto bonita. Como a propriedade dos Chen tem poucos membros, vocês devem se juntar no meio da fila. Será mais seguro desse modo.”
Gratidão pôde ser percebida no rosto pequeno e bonito de Chen Rong. Ela fez uma reverência para o homem a sua frente enquanto ainda estava sentada dentro se sua própria carruagem, dizendo: “Eu o agradeço, WuLang.”
Os olhos brilhantes de Wang WuLang moveram para Chen Rong enquanto ele sacudia a cabeça e fez uma observação: “De acordo com QiLang, Ah Rong da casa dos Chen carrega consigo uma graciosidade, mesmo que seja uma mulher. Eu não esperava encontrar uma Ah Rong tão cerimoniosa.” Enquanto façava, ele repetidamente sacudia a cabeça, parecendo desapontado.
Chen Rongu deu um sorriso de boca fechada enquanto pensava consigo mesma: Mas você também não é nenhum QiLang. Se a minha etiqueta for falha com você, eu estarei arruinada!
Sob a supervisão de WuLang, as carruagens dos Chen foram conduzidas até a metade da fileira. Os Wang tinham tantas carruagens que uma pessoa não poderia ver onde elas terminavam, mesmo que se esforçasse muito. Comparado com eles, a propriedade dos Chen parecia patética.
Durante o trajeto, Chen Rong descobriu que pelos cochichos dos Wangs pelos quais atravessaram no caminho, que naquele momento as pequenas famílias que queriam se juntar a caravana dos Wang era inúmeras. Várias delas chegaram até mesmo a oferecer tesouros mais preciosos que a coral dos Chen, mas foram todos recusados pela casa dos Wang.
No momento em que as carruagens dos Chen juntaram-se ao grupo, eles partiram a todo vapor. Eram tantos  cascos de cavalos galopantes batendo no chão e espalhando a poeira da terra seca que logo obscureceu a visão da multidão.
Chen Rong olhou para trás para ver que o muro da cidade estava se distanciando cada vez mais e mais dela. Nas suas memórias, guerreiros nômades atacariam a cidade dali há um mês. Então, eles saqueariam aqueles que ainda não saíram da cidade antes de transformarem essa pequena representação de Jiangnan em cinzas.
Ela viveu na cidade de Ping por quase dezoito anos na sua outra vida, mas já tinha se tornado só um nome em sua memória há muito tempo. Só à noite, durante seus sonhos, ela poderia rever o familiar pavilhão e seus ocupantes novamente.
Tendo essa reflexão, ela deu um leve aceno de cabeça.
Subitamente, Wang WuLang deu uma risadinha: “O que faz a Ah Rong acenar?”
Chen Rong respondeu em voz baixa: “Meu coração se entristece quando penso que jamais irei rever esse lugar.”
Wang WuLang ficou quieto.
Depois de quatro horas de viagem, Wang WuLang se sentiu exausto de toda aquela etiqueta que exercia com seu papel de anfitrião. Ele fez suas despedidas e partiu para a linha de frente do grupo.
Chen Rong fechou seus olhos para descansar. Mesmo de longe, era possível ouvir a risada das meninas Wang a frente. Essas eram jovens senhoritas que foram criadas na privacidade de seus aposentos, o quão longe qualquer uma delas poderia ter ido? Ainda que eles estejam fugindo naquele momento, nos corações delas, aquela jornada era mais excitante do que qualquer experiência que tiveram em suas vidas.
Durante a tarde, o grupo começou a comer.
Sentada em sua carruagem, Chen Rong observou os tapetes de damasco e almofadas de cetim em cima da grama. Ela silenciosamente sacudiu a cabeça.
Os aromas da carne e do vinho que emanavam das mesas pairavam no ar. Ela percebeu que na frente de cada senhor e de cada senhora haviam quatro mesas, cada uma delas repleta de comida.
Ela sabia que eles iriam jogar fora tudo o que não conseguissem terminar de comer.
Ela teve um pensamento e ordenou ao velho Shang, que estava guiando a sua carruagem: “Velho Shang, siga em frente.”
“Sim.”
Como a carruagem de Chen Rong estava andando enquanto os Wang faziam a sua refeição, dezenas de olhares voltaram para ela. De longe, Wang WuLang levantou-se, elevou sua taça para Chen Rong e deu um sorriso irônico: “A Ah Rong está aqui? Venha, venha, junte-se a nós.”
Chen Rong negou com a cabeça, fez a ele uma pequena reverência, então pediu para que o velho Shang dirija em direção do velho patriarca, Wang Zhuo.
Ela deu uma breve espiada ao seu redor, mas não viu Wang QiLang, logo voltando seu olhar para frente.
Ela saiu da sua carruagem, encontrou-se com Wang Zhuo, que estava apreciando sua refeição, e disse num tom claro: “Minhas saudações, Senhor Wang.”
Wang Zhuo ficou surpresa ao vê-la. Um sorriso agradável surgiu em sua face cheinha: “Ah Rong? O que você faz aqui?”
“Eu tenho algo que gostaria de dizer ao senhor.” Falou Cheng Rong, fazendo uma nova reverência.
“Conte-me”
“Nessa viagem até o sul, haverá também um grande número de plebeus que migram para o mesmo lugar que fidalgos como nós. Na minha humilde opinião, mesmo que esses plebeus carreguem consigo todos os seus bens, o que possuem dará para sustentá-los por apenas meio mês, se não só por dez dias.”
O clã dos Wang estava tendo sua refeição naquele local. Com a sua chegada súbita e sua fala eloquente, todas as jovens senhoritas da casa dos Wang instantaneamente franziram suas testas: É de boa educação que não se fale durante as refeições e ao se deitar. Essa Ah Rong da casa dos Chen já é uma mal-educada por aparecer no momento em que os outros estão comendo. Agora que ela está aqui, ela tem de falar sobre esses plebeus sujos e rudes, que falta de consideração! O que tinha de errado nos olhos de QiLang que fez com que ele a elogiasse incessantemente?
Chen Rong percebeu o incômodo no olhar dos Wang, mas ela simplesmente deu um sorrisinho e continuou: “Eu tenho certeza que você não tem receio em lidar com um ou dois refugiados, mas e se houverem centenas de centenas deles? Em tempos como esse, creio que podemos nos dar ao luxo de ter refeições mais simples.”
Quando ela terminou, ela novamente fez uma reverência para Wang Zhuo e ordenou ao velho Shang para que fizesse com que a carruagem voltasse.
No momento em que sua carruagem partiu, Chen Rong ouviu emergir sussurros e risadas de desprezo por trás deles: “Ah Rong da casa dos Chen é tão preocupada. Ela é a única aqui que tem medo de plebeus. Como ela pode tentar nos repreender quando é ela quem se desfez da própria fortuna?”

Nota da tradutora: Meu deus, quantos sorrisos e olhares tem nesse livro! E nunca tinha percebido a riqueza de palavras na língua inglesa para tipos de sorrisos e olhares.
Só como curiosidade, as roupas de Chen Rong pareceriam com essaessaessa essa. A roupa que alguns devem remeter a China Antiga, e mais ainda a uma época recente, é na verdade da última dinastia Qing, que são essaessa essa (e nesse nem se fala!). Esses vestidos estão séculos a frente da época.
  • a reverência completa feminina de uma nobre seria mais ou menos assim: imagem e uma mais respeitosa. As roupas usadas nessas imagens são de uma dinastia diferente da história. A de um homem nobre seria assim
  • WuLang segue a mesma lógica de QiLang: não é o nome dele, mas sim uma forma de ser chamado de acordo com sua nascença na família. E não mencionei que é a ordem de nascença de uma geração, então podem QiLang e WuLang podem ser irmãos ou primos por parte de pai.
  • Jiangnan é um lugar.
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